No Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado dia 29 de agosto, a atenção se volta para um problema crescente no Brasil: o uso de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes.
Entre 2018 e 2022, o número de usuários desses dispositivos quadruplicou, passando de 500 mil para 2,2 milhões, segundo dados do instituto de pesquisas IPEC.
Mesmo com a proibição imposta pela Anvisa, os vapes continuam populares, principalmente entre os jovens, com pesquisas indicando que a cada cinco pessoas entre 18 e 24 anos, pelo menos uma já experimentou cigarros eletrônicos.
“A aparência inofensiva, os sabores atraentes e o design moderno fazem dos vapes uma escolha perigosa, criando uma falsa sensação de segurança”, alerta a Dra. Mariana Maciel, médica brasileira à frente de uma biofarmacêutica canadense desenvolvedora de nanofármacos à base da planta.
“Esses dispositivos eletrônicos entregam nicotina em concentrações muito maiores do que os cigarros convencionais, levando a uma dependência precoce e intensa, especialmente entre os jovens.
É nesse contexto que o sistema endocanabinoide surge como uma alternativa promissora no tratamento do vício.”
A cannabis medicinal tem sido cada vez mais reconhecida como uma ferramenta eficaz no combate ao vício em nicotina.
O canabidiol (CBD), um dos compostos da planta cannabis sativa, ajuda a regular o sistema endocanabinoide, que está diretamente envolvido na gestão de sintomas como ansiedade e estresse – fatores críticos durante crises de abstinência da nicotina.
“O CBD atua no córtex pré-frontal e frontal do cérebro, promovendo a liberação de dopamina, um neurotransmissor essencial na regulação das sensações de prazer e saciedade, facilitando o enfrentamento dos sintomas de abstinência do vape,” explica a Dra. Mariana.
Embora os vaporizadores tenham sido inicialmente promovidos como uma alternativa menos nociva ao tabaco, estudos indicam que seu uso pode, na verdade, aumentar a dependência.
“Com o tempo, os usuários tendem a consumir mais para obter a mesma sensação de recompensa, o que pode agravar o problema em vez de solucioná-lo”, completa a especialista.
Cannabis e dependência: estudos científicos
Um estudo piloto, randomizado e duplo-cego, destacou o impacto positivo do CBD na redução do consumo de cigarro.
Durante uma semana, 24 fumantes foram instruídos a utilizar um inalador de CBD ou placebo sempre que sentissem vontade de fumar.
O grupo que utilizou o CBD reduziu em 40% o número de cigarros consumidos, enquanto o grupo placebo não apresentou mudanças significativas.
Esses resultados preliminares, junto com a robusta fundamentação pré-clínica, sugerem que o CBD pode ser um tratamento promissor para a dependência de nicotina.
“A ação ansiolítica, antipsicótica e reguladora do sono do CBD também é crucial no alívio dos sintomas de abstinência”, destaca a Dra. Mariana.
No entanto, ela ressalta que qualquer tratamento com cannabis medicinal deve ser acompanhado por um médico especializado, garantindo um monitoramento contínuo e seguro do paciente.
O que acontece com o corpo quando paramos de fumar?
Os benefícios de abandonar o tabaco são percebidos rapidamente. Nas primeiras 72 horas sem fumar, já há uma melhora significativa no ritmo cardíaco e na capacidade respiratória.
A circulação sanguínea se normaliza em duas semanas.
“Além do uso de CBD, é essencial uma terapêutica que envolva novos mecanismos de recompensa, como exercícios físicos, hidratação adequada e práticas de esportes ou atividades relaxantes e prazerosas ao paciente” conclui a Dra. Mariana.
O tabagismo no Brasil – números:
Em 2023, a taxa de fumantes adultos no Brasil foi de 9,3%, segundo a pesquisa Vigitel – sistema de Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) do Ministério da Saúde.
Esse valor representa uma queda contínua ao longo das últimas décadas, comparado a 14,9% em 2013. Apesar disso, o tabagismo ainda causa mais de 160 mil mortes por ano no país, ainda segundo o Ministério da Saúde.
Uso de Vapes:
O número de usuários de vapes no Brasil aumentou de 500 mil em 2018 para 2,2 milhões em 2022. Mesmo com a proibição pela Anvisa, em abril deste ano, os vapes continuam a ser amplamente utilizados, especialmente entre os jovens.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 17% dos estudantes de 13 a 17 anos já usaram o cigarro eletrônico.